Gata Borralheira

Nós mulheres, muitas vezes chegamos à vida adulta sem nos darmos conta de que o único impedimento para a nossa realização é a Gata Borralheira infeliz que temos dentro de nós.

Quantas de nós deixamos ela tomar conta, passamos a submissão de algo imaginário. Esta Gata Borralheira que no fundo gostaria de ter tido o casamento dos sonhos. Que o marido, o companheiro de jornada - aquele por quem nos encantamos e assinamos contrato de amor eterno - nos apoiasse de fato, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.
Mas os relacionamentos acabam, o casamento não é um conto de fadas, e os desafios para nos tornarmos inteiras, firmes e plenas é muito maior do que imaginamos. Passamos por decepções que nos tiram o chão do encantamento.



Ser feliz é algo muito mais profundo do que ter uma casa bonita e dinheiro para se gastar sem limites, casamento, filhos e constituir família. Ajuda, mas nem de longe preenche o que nossa alma deseja. Vamos mudando com o tempo. Perdendo ilusões, sendo menos ingênuas. Esperamos menos de nossos parceiros e contamos mais com nós mesmas. Não nos apoiamos sempre em amigas, usando-as como muletas que nos aceitam incondicionalmente. Gostamos delas porque muitas falam realmente o que precisamos ouvir, o papo é reto e direto, não há rodeios para falar o que por uma grande cegueira de desejo, amor e/ou paixão não nos deixa ver o que realmente se passa.

E assim vamos arrastando nossos problemas e frustrações, sem saber porque exatamente o final feliz não aconteceu. Quando na verdade ela só precisaria se olhar com respeito no espelho: reconheça que sua vida não é um comercial de margarina, nunca será, aquela família sem problemas, não existe.
Ou talvez seu destino seja ser uma mulher livre, que não se lamenta a cada esquina. Não se agrega a grupos de auto-lamúria onde desabafa eternamente seus insucessos. A vida nos estimula a tirarmos coelhos da cartola, bruxas malvadas de nosso inconsciente que são na realidade a nossa grande conselheira. Nos faz acordar de um sonho encantado e nos olhar, pela primeira vez, com olhos maduros. Que a frustração à nossa volta não é nossa.
Então não se pode levar para casa problemas que não são meus ou seus. Mulheres que não encontram seu lugar no mundo se tornam inconvenientes, e acabam se infiltrando nos lugares errados, se intrometendo na vida alheia.

Acreditam que precisam salvar o mundo, os homens, e toda irmandade de mulheres perdidas como ela. Não, eu ainda acredito que Deus criou a Mulher para pertencer ao rol das grandes estrelas que formam o Cosmos. Para serem grandes Mestras de si mesmas.


 Cinderela (Gata Borralheira) limpa a casa. Não ela é obrigada a limpar. Ganha um apelido depreciativo. Não pode sair. Não pode ir ao baile (se substituirmos baile por festa ou balada trazemos o conto para os dias atuais). Ela sonha em encontrar alguém que a retire de seus problemas e lhe dê atenção, carinho e conforto.  E eis que surge alguém: ELA... Ela mesmo pode fazer isso... Embora o típico seja se apaixonar “quase todo dia com pessoas erradas”, ela encontra o príncipe mas tem pouco tempo com ele, além de ter que ser reencontrada.
Se viveram felizes para sempre (o que acontece depois do casamento), aí já é uma outra história.


Histórias cabeludas rendem bons novelões e eu coleciono o suficiente para não querer passar por outros. Esses dramas ficam lá guardadinhos num lugar bem escondido do nosso hard drive, mesmo quando tudo parece um fim de tarde com pôr-do-sol cor de rosa.

Passada a euforia da felicidade imediata, é como se o porre de adrenalina e de ocitocina acessasse minha memória secundária e me lembrasse de quantas vezes me senti nas alturas para logo depois cair sem rede de proteção.Muito tombo feio. Machuca. Deixa ferida. Mas assim que deixamos de ser submissas.

A gente se estatela, levanta, engole o choro, limpa os machucados, faz uns curativos na alma. Haja terapia. Haja autoestima. Haja otimismo. É inevitável pensar que está bom demais pra ser verdade. Quase bate uma culpa por me sentir satisfeita com o que conquistei –principalmente se outros não estão.
Ser feliz me tira do sério porque percebo claramente tudo que posso perder.
O problema é quando os 15 minutos de felicidade não acabam. É difícil virar Cinderela quando você passou a vida inteira sendo gata-borralheira. A gente tem que aprender na marra a não se boicotar e não voltar correndo para aquele cantinho úmido, escuro, aconchegante e tão familiar que se chama infelicidade. 

E assim, somos inspiração para todas as outras que de algum modo, não encontram exatamente o caminho por onde pisar. Qual a motivação que as faz sair de uma depressão, ou da miséria, e ir à luta. Não acredito em coitadinhas.


Coitadinhas, não existem, como no comercial de margarina não existe aquela família feliz. Libere sua bruxa, deixe ela mostrar o poder de cada olhar, pensar, refaça rua imagem por você. Não tenha medo de agir, antes que todos seus problemas lhe engulam e possa causam um estrago maior que a sua própria submissão já lhe faz. Gata Borralheira ficou num conto de fadas, em uma ficção na qual não se cabe em sua vida, a não ser para lhe mostrar o que você realmente não deve ser... É difícil virar Cinderela quando você não se permite. 



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que resta após o fim?

O tempo passa… a gente cresce, amadurece e o gosto das lembranças te fazem chorar.