Pois é...Nem todo carnaval tem seu fim.
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Autorizada por Gaby Camburão - Minha amiga Diva |
A cidade estava acordada e não havia qualquer indício de que quisesse adormecer.
As cores, as musicas e as pessoas circulavam livres em passos circenses misturando-se aos tradicionais bêbados da região.
Era o carnaval.
Na avenida Afonso Penna um bloco arrastava atrás de si uma enorme cauda humana que repetia em coro “- Um beijo pra quem é de longe, um beijo pra quem é daqui…” Um beijo pra mais alguém que já não me lembro quem e ” – Um beijo pras travesti, um beijo pras travesti.”
Ele sorri. (achei melhor não citar o nome, rsrs)
Não porque é travesti e essa seja uma das raras vezes em que se sente igual, aceito ou parte do todo. Pelo contrário, sorri quase debochado porque sabe que não funciona assim. Sabe que parte das pessoas ali cantando aquilo são os mesmos olhares debochados das filas do banco, as patotas de carro no meio da noite que passam fazendo piada, seus inquisidores modernos do dia a dia.
Mas Ele sorri.
Sorri porque pensa nas putas Gregas que também eram brindadas durante as dionisíacas. Ele é uma puta dionisíaca e sorri porque sabe que as putas são seres livres.
São as criaturas misticas que vão dormir sem culpa quando o carnaval chega ao fim. Enquanto outros choram a quarta de cinzas, a tristeza de abandonar suas fantasias, Ele sabe que vestiu a sua na difícil noite em que se assumiu, e que depois daquilo nunca mais houve sequer um dia em que se vestiu de outra coisa.
Que seu carnaval acontece todos os dias porque não mais usou uma mascara social no resto do ano.
Ele sorri e sussurra pra si enquanto os milhões de beijos enviados ali para ele abafam sua voz:
” -Minha carne é de carnaval e o meu coração é igual.”
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