João ou Maria (poemacrônico)


um dia
se foi Maria
sem sair do lugar
já não estava mais lá
veio João
nasceu de si mesmo
mesma alma
mesmo coração
outro jeito
por quê não?
Não dá pra beijar só no carnaval quando se tem amor o ano inteiro.
A festa acabou faz tempo. A banda passou, as máscaras foram pro
chão. Pois é, chegou o pós-carnaval e as diferenças continuarão
desfilando pelas avenidas. O que fazer, encarar ou fechar a janela
para não ver o carnaval passar?
Não importa o que você faça. Nem o que eu faça. O bloco da
diversidade vai só aumentar. Esse é o enredo da vida. As
diferenças fazem tudo ser mais completo. A individualidade
faz todo ser mais pleno.
A verdade é que a questão não é só gênero, menos ainda só de um
gênero. As lutas são várias e a causa é uma só. Por isso, meu
movimento é pelo respeito e empatia. A minha ideologia é simples:
a do ser humano protagonista, na fé, na cor, no amor e até na dor
que ele escolher. Milito pela tolerância e não faço apologia
segmentada. Nunca entendi muito bem essa coisa de minorias.
Coloco de um lado os discrimidados, do outro os ignorantes. Nessa
divisão fica claro que nem mesmo os ignorantes somam uma
minoria. Ao contrário, eles são muitos e usam máscaras que não
caem no fim da festa. Afirmam não ter preconceito e pior, acreditam
nisso.
Pode ser difícil aceitar o que não é espelho. Mas não se iluda, o
espelho se quebrou em vários pedacinhos.
Continua sendo espelho, só que multifacetado. Em cada pedacinho
tem um reflexo, uma imagem, um rosto, uma cor. Quem já brincou
com um caleidoscópio? É mágico ver aqueles pedacinhos de vidro
criando formas infinitas, todas lindas, coloridas, iluminadas, vivas.
Fragmentos tão diferentes uns dos outros se transformando em
imagens simétricas, organizadas e encantadoras.
Também despedaça não ser aceito. Acho que nesse sofrimento
somos todos iguais.
Caleidoscópio vem da junção de umas palavrinhas gregas e quer
dizer “ver belas imagens”. Já foi escrito que a beleza está nos olhos
de quem vê. Então, basta olhar para as pessoas e lembrar dos
pedacinhos de vidro, cada um do seu jeito, se juntando e fazendo a
vida ser mais bela. Ficou mais fácil? Ainda não.
A convivência não depende só de olhar com bons olhos.
É preciso olhar com os olhos dos outros. É preciso desenvolver a
capacidade de vestir a pele do outro. Imaginar o que o outro sente.
Respeitar seus instintos. Se mesmo assim não for possível
compreender, tente ao menos aceitar. Faça um esforço. E se nada
funcionar, ainda te resta a chance de tolerar.
Afinal, é muita falta de originalidade repudiar a autenticidade alheia.

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