Me lembro de tudo o que eu quero esquecer.
E eu saí de casa com a estranha sensação de que só poderia voltar depois de fazer algum estrago por aí.
Não era comum. Ainda mais comigo, o tipo de menina que nunca sai para lugar algum e que vive a vida toda ao contrário (isso era o sonho dos meus pais, filha quieta dentro de casa).
Eu queria mudança, eu queria abrir a mente para o mundo e mostrar que apesar de tudo, eu estou viva sim. Um pouco apagada, um pouco fora de ordem, mas ainda assim com uma carga bem grande de coisas para viver.
Saí sem direção não sabia pra onde ir só sabia que eu precisava ir. Era engraçado, mas parece que o plano estava realmente dando certo. Te manter longe da minha mente, do meu corpo. Eu (quase) não lembrava mais de ti. Tua imagem na minha cabeça ficava cada vez mais distorcida. Só não tenho certeza se isso me fazia bem ou se era exatamente esse o motivo de tanta raiva e angustia. Agora não interessava mais.
Encontrei algumas pessoas, quase todos estranhos para mim. Os poucos que eu conhecia não me despertavam desejo algum de cumprimentos. E a única coisa que veio em minha mente foi a grande satisfação por não te ver lá. Em lugar nenhum. Caminhei um pouco, adentrando a rua e encontrei alguns velhos amigos. Lembrei da saudade que sentia de cada um deles e algo bom invadiu meu peito ao saber que apesar de tanto tempo longe, eles ainda lembravam de mim. E eu sabia que sentiam saudades.
Foi um reencontro doce e ao mesmo tempo forte. Voltei a sentir o que a anos atrás estava escondido no peito e não se manifestava mais. Os abraços que ganhei nessa noite se tornaram a melhor coisa que havia me acontecido nos últimos tempos. Eu lembro de uma roda de amigos, um violão e do meu peito cheio de sentimentos que levemente despertavam, um a um. Um sorriso, daqueles bem discretos, surgiu no canto da minha boca quando me veio a mente que a minha vida poderia sim seguir em frente sem você do meu lado.
O que antes era ferida aberta, agora cada vez mais, virava cicatriz. Não me interessava mais saber por onde você andava, o que tinha feito, o que passava pela tua mente. Não me interessava mais você. Novamente, voltei a não saber se isso me trazia alegria ou raiva. Preferi deixar assim, sem ter certeza de nada. Nas ultimas vezes que me arrisquei a querer saber de tudo, minha vida desceu a ladeira e não conseguia mais subir. Me via agora dando pequenos passos em direção a um recomeço.
“Recomeço”, pensei. E Sorri discretamente.
Visão turva, meu senso de direção cada vez mais fraco e vozes em minha volta das quais não sabia de onde e nem de quem vinham. Você, nítido em mim outra vez. Não acreditava que sóbria, eu conseguia te manter longe. E agora, que estava de porre, no meio de uma confusão, a única coisa que fazia sentido era tua imagem na minha cabeça. Quase conseguia ouvir tua voz no meio de tanta gente estranha. Alguém me tomou pelos braços, e de olhos fechados eu desejei com todas as minhas forças que fosse você.
Vi a cortina entreaberta e senti meu olhos arderem com a pouca claridade que ela deixava passar. Minha cabeça doía, apertei os olhos com toda força e virei para o outro lado da cama. “Olha só quem acordou”, ouvi uma voz dizendo baixinho. Tive quase certeza ainda não estava bem. Fechei os olhos de novo sabendo que no fundo era um sonho e desejei não acordar. Era ele mesmo, lindo e exatamente a imagem que a minha memória fez questão de guardar em algum lugar bem fundo da minha cabeça. Desejei não sentir mais nada. E quando realmente abri os olhos, percebi que estava no meu quarto, com o sol entrando pela minha janela, tive a sensação que dormi demais.
Me sentei na cama e me perguntei ‘Por que você ainda aparece nos meus sonhos?’ Justo agora que eu comecei a lidar bem com a situação de não te ter por perto. Não me entendo. A minha vontade era de passar meus braços ao redor do corpo dele mais uma vez, e o trazer para perto de mim o máximo possível e ficar ali sem pensar em mais nada.
Mas ele estava tão longe de mim (em outro plano). Daí repensei e tratei de colocar em prática o auto-controle. Fechei os olhos e lembrei do seu rosto ‘me olhando com os mesmos olhos verdes de calma do qual eu senti tanta falta. Então antes que a nostalgia me tomasse por inteira resolvi levantar e encarar o dia sem o meu mau-humor.
E com um jeito bobo de sorrir como de quando costumava a viver feliz. Mais lembre-se eu posso fingir que te esqueci o tempo todo mais eu ainda gosto do jeito como você me interrompe quando quero falar. Eu adoro o som da tua risada e seu passar de mão nos cabelos grisalhos. Eu te amo, mesmo sabendo que você não está presente. E eu desejo você por perto com todo meu coração. Só não quero confessar que a saudade que deixou me faz morrer de amores. Eu deveria te odiar, mas o amor que sinto por ti é tão mais forte que isso… E passei sorrindo o dia todo, por simplesmente ter sonhado com você que havia me tirado o sono por tantas noites seguidas. Mais que ainda continua me radiando com o mundo e me deixando cada dia mais boba. MESMO SEM SABER DISSO.
Saudades.
Comentários
Postar um comentário